Amavisse

da | Mar 6, 2021

Traduzioni inedite di Lucia Brandoli.

 

Amavisse

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um sol amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

 

Amavisse

Come se ti perdessi, così ti voglio.
Come se non ti vedessi (fave d’oro
sotto un sole giallo) così ti riscopro brusco
inamovibile, e ti respiro intero

un arcobaleno d’aria in acque fonde.

Come se mi permettessi qualsiasi cosa,
mi fotografo in cancelli di ferro
ocra, alti, e io stessa diluita e minima
nel dissolversi di ogni addio.

Come se ti perdessi sui treni, nelle stazioni
o aggirando uno specchio d’acqua
che allontana gli uccelli, così ti sommo a me:
inondata di reti e di brame.

(Tratto dalla seconda parte dell’omonima silloge Amavisse.)

 

 

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

 

Dieci invocazioni all’amico

Se ti sembro notturna e imperfetta
guardami di nuovo. Perché stanotte
mi son guardata anch’io, come se mi guardassi tu.
Ed era come se l’acqua
volesse
scappare da quella sua casa che è il fiume,
e scivolando appena, senza nemmeno toccarne la sponda.
Ti ho guardato. E da tanto
capisco di esser terra. Da tanto tempo
aspetto
che il tuo corpo d’acqua più fraterno
si stenda sul mio. Pastore e navigante,
guardami di nuovo. Con meno arroganza.
E più attento.

(Tratto da Júbilo, memória, noviciado da paixão.)

 

 

Poemas aos homens do nosso tempo

Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.

 

Poesie agli uomini del nostro tempo

Mentre scrivo il verso, tu di certo vivi.
Lavori la tua ricchezza, e io lavoro il sangue.
Dirai che il sangue esiste o non avresti il tuo oro
e il poeta ti dice: compra il tuo tempo.
Contempla il tuo vivere che corre, ascolta
il tuo oro all’interno. È altro il giallo di cui ti parlo.
Mentre scrivo il verso, tu che non mi leggi
sorridi, se del mio verso ardente ti parla qualcuno.
L’esser poeta ti sembra un ornamento, dissimuli:
“Il mio tempo prezioso non può esser sprecato coi poeti”.
Fratello del mio momento: quando muoio
muore anche una cosa infinita. È difficile dirlo:
MUORE L’AMORE DI UN POETA.
E questo è tanto, che il tuo oro non compra,
e così raro, che il più piccolo pezzo, talmente vasto
non sta nel mio canto.

(Tratto da Júbilo, memória, noviciado da paixão.)

 

 

Tenta-me de novo

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

 

Tentami di nuovo

E perché mai vorresti la mia anima
nel tuo letto?
Ho detto parole liquide, deliziose, aspre
oscene, perché così ci piaceva.
Ma non ho simulato godere piacere lascivia,
né omesso che l’anima vada ben oltre, cercando
l’Altro. E ti ripeto: perché mai
vorresti la mia anima nel tuo letto?
Giubila al ricordo di coiti e conferme.
O tentami di nuovo. Obbligami.

(Tratto da Do desejo.)

 

 

Aquela

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

 

Quella

Afflizione di esser me e non un’altra.
Afflizione di non essere, amore, quella
che molte figlie ti ha dato, hai sposato fanciulla
e di notte si prepara e si indovina
oggetto d’amore, attenta e bella.
Afflizione di non essere la grande isola
che ti trattiene e non ti tormenta.
(La notte come una fiera si avvicina)
Afflizione di esser acqua tra la terra
e avere il volto travagliato e mobile.
E al tempo stesso multipla e immobile
non sapere se se si assenta o se ti aspetta.
Afflizione di amarti, se ti commuove.
Ed essendo acqua, amore, desiderare di esser terra.

 

 

Passeio

De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.

 

Passeggiata

Di un esilio passato tra la montagna e l’isola
vedendo il non essere della roccia e l’estensione della spiaggia.
Di un continuo aspettare di navi e chiglie
rivedendo la morte e la nascita di qualche onda.
Di toccare così le cose, accurata e lenta,
e nemmeno nel dolore arrivare a comprenderle.
Di sapere il cavallo nella montagna. E reclusa
tradurre la dimensione aerea del suo fianco.
Di amare come chi muore o che si è fatto poeta
e capire così poco il tuo corpo sotto la pietra.
E di aver visto un giorno una bambina vecchia
che cantava una canzone, senza più speranza,
è che non so di me. Corpo di terra.

(Tratto da Exercícios.)